Etnoletramentos e formação docente : semeando perspectivas decoloniais para educação escolar quilombola

Resumo

A proposição dessa temática foi semeada na alegria dos encontros em que participo; nos risos e cantos que acompanham a luta por justiça social. A pesquisa está inserida na linha de pesquisa Movimentos Sociais, Política e Educação Popular, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT e refere-se a um recorte do projeto “Etnossaberes: perspectivas e desafios para formação de Professores atuantes em educação escolar quilombola”, de propositura do Grupo de estudos e pesquisas em Educação Escolar Quilombola/GEPEQ, coordenado pela professora Dra. Suely Dulce de Castilho. Neste recorte, esta pesquisa tem como objetivo descrever e analisar os processos formativos compartilhados em uma ação-pesquisadora junto com educadoras-pedagogas que atuam em uma escola quilombola do Estado de Mato Grosso, pautados nos pressupostos do Etnoletramento, e os impactos dessa formação em suas práticas pedagógicas. O lócus da pesquisa foi a Escola Estadual Quilombola José Mariano Bento, situada no território quilombola Vão Grande, localizado nos municípios de Barra do Bugres-MT e Porto Estrela. As participantes da pesquisa foram quatro professoras pedagogas atuantes na referida escola. A discussão teórica abrangeu os conceitos de quilombo; Educação Escolar Quilombola; currículo; eurocentrismo; teorias decoloniais; pressupostos do Etnoletramento; formação de professores, além das Diretrizes e Orientações Curriculares para a Educação Escolar Quilombola. Para tanto, dialogamos com autores como Castilho (2011, 2008), Lander (2005), Mignolo (2003), Maldonado-Torres (2007), Catherine Walsh (2009), Freire (1987, 1987), Arruti (2008, 2010), Arroyo (2013), dentre outros. Metodologicamente, trata-se de um estudo qualitativo, no qual é utilizado a etnografia fundamentada em Geertz (2008) e a pesquisa-ação, com base nos preceitos de Thiollent (1986). Para a geração de dados utilizamos observação participante, entrevistas semiestruturadas, questionário e análise documental. Foram realizadas quatro etapas durante o desenvolvimento da pesquisa-ação: estudo teórico com as professoras participantes; pesquisa de campo efetuada pelas professoras para levantamento dos etnossaberes da comunidade; elaboração e aplicação, pelas professoras, de atividades pedagógicas utilizando as informações levantadas na pesquisa de campo, as quais resultaram numa proposta político pedagógica do ensino da leitura e da escritura a partir dos etnossaberes, que possivelmente, pode inspirar outras práticas em outras comunidades quilombolas. Atendendo ao objetivo da pesquisa, os relatos das educadoras afirmam que é possível se pautar nos pressupostos do Etnoletramento durante o ensino dos Anos Iniciais na Escola José Mariano Bento e confirmam nossa tese de de que o diálogo sobre os pressupostos dos etnoletramentos e dos etnossaberes fomentados por meio de formação continuada, podem contribuir para que os docentes promovam uma educação contra-hegemônica, pluriversal e conectada com os interesses dos estudantes quilombolas, instigando-os ao protagonismo.